- Afinal onde é o encontro?!
- Ó cum caraças!!! Mas vós estaindes a brincar comigo?!!! Há 35 anos que nos encontramos e ainda num sabendes que o encontro é SEMPRE no Brasileira às 19h00?!!!! A bontade que tinha era de bos dar masé duas bolachadas que bós até ficabas logo a saber onde era o Largo do Paço!!!!!!!!!
- Mas olha que um ano o encontro foi no Vianna, que o Brasileira estava fechado por ordem da ASAE - diz a Anita com a sua vozinha de menina.
- Balha-me Santa Ingrácia. Tu num sabes que num há regra sem excepçom?!!! Se não andasses praí a cantar asneiras enquanto abanas o rabo com fio dental!! Espera, não és tu, é a outra Anita! Bom, bamos masé acabar com esta conversa que já me estou a enervar!!! E mais a mais, quem escreve isto sou eu, por isso a história acaba como eu quiser!
Todos concordaram comigo, pedindo humildemente perdão por me terem incomodado com parvoíces. E siga a história.
Antes das 19h00 já o Ginho e o Carneiro estavam a chegar ao Brasileira, para dar de caras com o Adelino e a Miguel, que chegavam no sentido oposto. Beijos, abraços, lágrimas nos olhos, etc. e tal. Entremos que a chuva não dá tréguas. A Anita chega de seguida, logo depois é a vez da Filomena. Mais beijos, abraços, lágrimas nos olhos, etc. e tal. Agora é a vez do Jorge e Beta. Por fim a Cristina. Beijos, abraços, lágrimas nos olhos, etc. e tal, emoção à flor da pele, alegria sincera pelo reencontro, amizade pura no seu esplendor! Agora é que estou a ficar mesmo com lágrimas nos olhos, mas talvez sejam alergias. Logo tenho que tomar um antiestamínico. Pôr a conversa em dia, resumos dos últimos 5 anos, apreciações genéricas, estamos na mesma, nem parece que passaram 5 anos, a conversa flui tão naturalmente que até parece que estivemos juntos ontem. O Ginho diz à empregada que a conhece de algum lado mas esta nega peremptoriamente que seja escuteira, o que o leva a desconfiar de ação secreta dos governos para o confundir e iniciar algum processo avançado de demência, com o intuito de o impedir de chegar a Presidente Nacional da Fraternidade de Nuno Álvares. Há que ter cuidado que eles estão a ouvir tudo!!!
- Bom, afinal onde é o jantar?!
- Cum grande carago, bós hoje tiraste o dia pra pegar cumigo?!! Atão onde é que habia de ser?! É num restaurante!!!! E mais, nunca lá fui nem sei onde é, foi-me sugerido por pessoa conhecida. Se não prestar a culpa não é minha! Chama-se Centurium, e pelo nome deve ser comida romana. Só espero que tenha pizza Capriciosa.
- Eu conheço o Centurium, diz a Cristina. É mesmo aqui pertinho na Avenida Central e é muito bom. Vinde atrás de mim que vos levo lá.
- Eu num bos disse que era um restaurante bom?!! Podeis sempre confiar nas minhas escolhas. A Capriciosa debe ser magnífica!
Afinal o Centurium é mesmo um restaurante chique, com muita pinta e ambiente agradável. Cozinha portuguesa (no geral), com uns toques gourmet. Depois de sossegarmos a filha da Filomena, que andava desesperada à procura da mãe, que, fruto da emoção de nos rever, nem ouvia o telemóvel tocar, tendo-lhe enviado uma foto para provar que a mãe estava connosco, viva e de boa saúde, passamos ao jantar propriamente dito. Entradas muito boas, para a maioria bacalhau à Braga (que em Guimarães se chama de cebolada ou recheado, que na cidade-berço certos nomes não se pronunciam), carne para o Carneiro (pensava que os Carneiros eram vegetarianos, lol) e risotto não sei de quê para o Adelino e Beta, que estava salgado, o que é bem feito, que ninguém os mandou comer comidas estrangeiras, ainda por cima um arroz melado, num restaurante tipicamente português, começando pelo nome. E bom vinho branco e tinto e até também água (lol). Conversa boa, e depois de criticarmos o uso excessivo dos telemóveis, toca a usar os nossos para mostrar fotos dos filhos, nossos e dos outros (até da filha do Raúl), também uma foto do Jorge e da Beta no seu primeiro baile de gala, no que foi um momento particularmente embaraçoso, relembrar encontros antigos e os tempos passados, e dizer um bocado mal dos ausentes, como é nosso apanágio. Disse o Jorge que se hoje está onde está, isso deve-se a nós o termos eleito delegado de turma no primeiro ano. Ora, considerando que ele hoje está sentado à mesa de um restaurante, se calhar mais valia nós não o termos eleito. As sobremesas tinham toques artísticos e nunca comi um pudim abade de priscos dentro de uma tigela de massa de bolacha, ou lá o que raio era, e que deu mais trabalho a comer do que valia! Na próxima quero sem tigela!
Após olharmos para a cara desesperada da empregada, fartinha de nos aturar, resolvemos ir embora, depois de pagar a dolorosa, que fez jus ao restaurante: preço para estrangeiros e avecs reformados ou quase lá.
E toca de acabar a noite no Café Vianna, que era perto, já que continuava a chover, e só fechava às duas da matina. O espaço já está um bocado decadente e aceita grupos numerosos de casais com filhos a correr aos gritos por entre as mesas e a partir copos à uma da manhã. Já não há educação como a que demos aos nosso filhos antigamente! Mas mesmo assim bebemos mais um copo, quase até à hora do fecho, e foi tão bom que decidimos que o próximo encontro será para o ano, lá para final de outubro, para comemorar o 40º aniversário de quando nos conhecemos e tudo começou: outubro de 1984!!!!
E, o encontro será às 19h00 no Brasileira, e o jantar é num restaurante, oubistes ó murcões?!!!